Grandes Diretores de Videoclipes: Jim Blashfield

Anos 80, Grandes Diretores | 29 ago 19 - por João Paulo Porto

Quando a produtora Melissa Marsland enviou o curta-metragem SUSPICIOUS CIRCUMSTANCES de Jim Blashfield para o Talking Heads em 1985, a banda contratou a equipe para criar um vídeo para o seu próximo single, “And She Was, do album Little Creatures. A sucessão de videoclipes inovadores que se seguiram expandiram a definição do gênero e chamaram a atenção internacionalmente, recebendo inúmeros prêmios e indicações da MTV, um Cannes Gold Lion e um Grammy.

Como diretor de alguns dos clipes de animação mais aventureiros, Blashfield tira objetos reais da vida cotidiana – jornais, carrinhos de bebê, espátulas – e depois fotografa cópias e os anima até que se tornem assustadoramente metafóricos. Esse processo de animação exclusivo dá às imagens de Blashfield um olhar ao mesmo tempo antigo e abstrato, como se todos estivessem aludindo a eventos subconscientes do passado.

No clipe “Leave Me Alone” de Michael Jackson, o diretor apresenta a vida de Jackson como um passeio em um parque de diversões, tanto caricatural quanto ameaçador. Enquanto zomba dos mais loucos rumores dos tablóides sobre a vida da estrela, Blashfield oferece uma visão inesperada da psicologia de Jackson. Ele constrói dois Jacksons aqui – um garoto travesso, o outro um gigante do estilo Gulliver, preso em um labirinto de montanhas-russas e calhas de toras. Com inteligência e empatia, ele o retrata como um adulto escravizado pelas fantasias de uma criança.

É a primeira vez que Blashfield usa videoclipe para explorar a personalidade de um artista. Seus outros clipes atingiram exclusivamente o conteúdo da música. A primeira, do Talking Heads “And She Was”, refletiu o vertiginoso senso de dissociação da música ao apresentar uma mulher flutuando sobre seu bairro, olhando com alegria as lembranças e pontos de referência de sua vida. Blashfield criou em “The Boy in the Bubble” de Paul Simon, imagens de rituais antigos e da ciência moderna como igualmente mágicas, e “Good Friends” de Joni Mitchell, onde o animador reproduz um antigo relacionamento através de seus ícones agora sombrios.

Em todas essas obras, a animação é densa e escura, dando a impressão de um velho álbum de recortes. Os principais motivos são recorrentes – jornais e aparelhos de TV (para representar o inconsciente da mídia coletiva) e o envio de objetos do cotidiano para a órbita (criando um universo separado). Nesse rearranjo da realidade, Blashfield tenta obter a conexão oculta entre objetos e idéias. 

A retrospectiva dos videoclipes de Blashfield nos lembra que, durante algum tempo na década de 1980, ele foi classificado entre os grandes autores da jovem forma de arte junto com artistas como Godley & Crème e Steve Barron. 

João Paulo Porto

Criador do site 1001 Videoclips e apaixonado por The Smiths.