Anúncio com Código

Para Ver Antes de Morrer: #313. Katy Perry ft. Kanye West | E.T.

Para Ver Antes De Morrer | 01 maio 17 - por João Paulo Porto

Um bilhão de anos é uma eternidade para os humanos mas, reduzindo o tempo, como estaria a Terra em um milhão de anos? Quanto tempo ela levaria para se recuperar de todos os gases do efeito estufa e todo o lixo jogado nos rios e oceanos? 120 anos, talvez? De fato, com um bom aspecto – se continuarmos no ritmo que estamos – ela não deverá estar. 

Katy Perry em “E.T.”, a partir de uma narrativa de sonhos, nos mostra, possivelmente, uma Terra pós-apocalíptica, tomada por entulhos, lixo, pneus velhos. Dentro do pop também podemos encontrar críticas implícitas. A Terra de “E.T.” é um planeta morto, escuro e frio visto comumente em filmes de ficção científica. Se você reparar bem, não está em cena somente a representação degradante terráquea que vem do cinema, mas a forma como o clipe está disposto lembrando um trailer cinematográfico. A TV bebe do cinema, o cinema bebe da TV e o videoclipe precisa da mesma urgência e compasso dos trailers.

Ainda dentro das estruturas críticas utilizadas na música pop, podemos perceber no  decorrer do vídeo, imagens de animais, veados e gazelas que são fundidas com, digamos, as tomadas principais do clipe. Essas visões, reforçam ainda mais o caráter de lembrança da Terra, remetendo a um passado cujas dimensões temporais são inimagináveis.

No clipe, Katy Perry interpreta uma extraterrestre que, contrariando os princípios físicos e renegando as leis que permitem a vida tal como conhecemos, gira pelo espaço entre nebulosas e estrelas, numa metamorfose que passa de uma figura monstruosa até chegar ao rosto da artista.

A gravidade não parece afetá-la, e a Força G parece ser usada da forma como ela quiser até o momento em que desce na superfície planetária sem qualquer indício de que tenha entrado em atrito com a atmosfera. Chegando ao planeta destroçado, a alienígena busca por algum indício de vida e encontra um robô que, numa representação antropomórfica, traz a representação do fogo vital no peito de metalizado.

O que acontece, diferentemente dos filmes de ficção científica, é que o robô se transforma em homem e não o contrário, por tanto, em meio a uma paisagem morta, é trazida à tona a questão da humanização, visão que se alinha as questões cientificistas e puramente animais: o feminino e o masculino se unem para repovoar o planeta. Se antes o ambiente parecia frio e escuro, agora uma luz de fundo aparece para coroar estes que seriam o Adão e a Eva do futuro. Assim, além das questões que são trazidas da literatura fantástica e ficcional, são evocados arquétipos e representações que estão presentes culturalmente partindo de um exemplo clássico, acessível e polêmico como os textos bíblicos. A título de curiosidade, o ator que interpreta o humano no clipe de “E.T.” faz o papel de Adão no curta “Tropico” da cantora norte-americana . O questionamento que resta é essa leve obsessão americana por um Adão albino.

 

“E.T.” fala sobre apaixonar-se por um estranho e se nos aproximarmos mais do que de fato caracterizamos como estranho, o espaço parece ser uma excelente metáfora para o desconhecido. O vídeoclipe também nos aproxima dos anseios e obsessões da ciência pelo que foi e pelo que virá. As Voyagers 1 e 2 que estão indo espaço a dentro por mais de 30 anos, levam consigo, entre outras informações, alguns sons da terra. No começo de “E.T.”, Midge Williams, cantora de jazz durante os anos 30, nos dá “Where in The World”: o passado contrastando com um futuro catastrófico como resquício de uma voz remanescente que caminha em ondas eternas pelo espaço.

Katy Perry, contudo, nos traz também uma reflexão sobre a efemeridade da vida. O tempo de existência humana desde o inicio do Universo até a evaporação do último buraco negro, compreende um milésimo de bilhão de bilhão de um bilionésimo de bilhão de bilhão de um bilionésimo de bilhão de bilhão de um bilionésimo de uma parcela da idade do universo. Com tão pouco tempo assim, o amor que é tão urgente não pode esperar para sempre.

Diretora: Floria Sigismondi | Ano: 2011

João Paulo Porto
João Paulo Porto

Fundador do 1001 Videoclips e louco por The Smiths