Um clipe lindo e emocionante. Acompanhe a aventura de um catador que transforma uma fantasia de lixo em um espetáculo de rua fabuloso. Esse é o enredo do primeiro videoclipe da banda niteroiense Overdrive Saravá para a terceira música do disco homônimo: “Atabaques e D’jembes”, que será lançado em Outubro. Segundo o realease – A proposta é uma experimentação social inspirada na necessidade de derrubarmos as barreiras das diferenças e dos preconceitos.

O roteiro traz aos holofotes um personagem invisível na sociedade, representado por um catador de lixo apático que circula sem norte pelo centro do Rio de Janeiro em busca de sua subsistência, à procura de um lugar em que deixe de ser uma figura ignorada.

Confira abaixo o realease completo e assista ao clipe até o final, porque vale a pena!

“O catador, à margem da sociedade, encontra no lixo elementos através dos quais ele se empodera, nasce, se cria e se transforma. Cheio de si, embriagado pela descoberta de um novo ‘eu’, ele vaga pela Lapa com uma nova atitude, provocadora, interativa, passando do invisível ao visível em um cenário totalmente alegórico”, conta o vocalista da banda, Gregory Combat.

A produção tem formato de minidocumentário com participação expressiva e fundamental do ator Vinícius Andrade, estudante de artes cênicas/direção teatral na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O tema gira em torno das questões de gênero e da necessidade de se encaixar a padrões preestabelecidos para ser aceito na sociedade. A inspiração, contam os músicos, veio de um outro vídeo com proposta semelhante, chamado “AMERICAN REFLEXXX”, gravado na Carolina do Sul, nos Estados Unidos.

“Encontramos o Vinícius através de uma indicação e ele topou o trabalho logo de cara. Filmamos com a Lapa cheia, com uma câmera o seguindo e registrando tudo que acontecia naquela noite. A parte inicial, em que ele aparece como catador de lixo, foi a mais idealizada, e roteirizada. Após a transformação, apenas o seguimos e deixamos acontecer”, explica Gregory.

Com a luta das minorias caracterizada por um personagem sem obrigatoriedade de identificação de gênero, os músicos buscaram levantar não apenas a bandeira da vivência LGBT, mas também do repúdio à intolerância religiosa, à população de rua e à população negra. “Quando recebi a proposta do clipe, pensei na ideia de construir uma persona, mas depois percebi que isso era bobagem porque essa persona sou eu, e depois que aceitei isso, eu explodi coisas do meu cotidiano, eu fui com sangue no olhos, foi um levante negro, LGBT+ e eu joguei minha vivência pro mundo naquele dia e isso, sem dúvida, contribuiu para o meu empoderamento”, exalta Vinícius Andrade, protagonista do clipe.

Contrariando as expectativas da galera da Overdrive Saravá, o vocalista revela que a reação das pessoas durante a filmagem foi positiva. O motivo talvez tenha relação com o palco escolhido para a performance, a Lapa, uma grande alegoria por si só, que refletiu aceitação e interação por parte do público e tornou a experiência um pouco mais lúdica. De qualquer forma, isso não interferiu em momento algum na imagem de um ser humano violentado, invisível e marginalizado.

“Eu tirei  muita gente da zona do conforto visual, me tirei também, uns lidaram bem, outros passavam pelo espanto do afrontamento, mas de uma forma geral percebi um medo do diferente, do incomum, pude ver isso, olho no olho. Eu sou frequentador da noite da Lapa e centro do Rio de Janeiro e sempre passo pela rua com medo, apreensivo. Nesta noite eu pude ver o medo nos olhos de algumas pessoas, o medo do novo, do diferente e tive mais certeza que não somos tão diferentes assim”, conta Vinícius.

A teatralidade marcada no clipe não é exceção no trabalho da Overdrive. Tal característica passou por um processo de amadurecimento desde o surgimento da banda, em 2012, e hoje faz parte de sua identidade. “Essa questão plural às linguagens para nós é muito cara, não acreditamos em música pela música. Todas as vertentes dialogam entre si, essas valências não são engessadas e pode acrescer de forma muito rica a todas as outras. Inegavelmente enxergamos isso em todas as áreas. Alguns artistas a deflagram assumidamente, outros não, mas está lá de alguma forma”.