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Top 5: Cinco clipes gravados em Plano-Sequência

Listas | 12 set 16 - por Fercho Marquez
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Um dos pioneiros no uso contemporâneo da gravação de videoclipes com uso de uma câmera só ou em apenas uma tomada foi o diretor francês, Michel Gondry, também conhecido pelo Óscar de Melhor Roteiro Original por Eterno Brilho de uma Mente Sem Lembranças de 2004 e videoclipes icônicos em plano-sequência como o de Kyle Minogue, “Come To My World” de 2002 e o da banda Metronomy, “Love Letters” de 2014.

Elencados nesta lista, estão os videoclipes que justamente dialogam com essa segunda característica descrita no parágrafo acima. Aqui estão videoclipes que de início estão aproximados por apresentarem em sua construção formal o uso do plano-sequência (também conhecido como de um take só, de uma só tomada), mas que entre si, cada um apresenta suas próprias características.

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1 – Snow Patrol – Open Your eyes

Em 2007, a banda irlandesa Snow Patrol presenteou ao mundo a deliciosa música “Open Your Eyes”, do bem sucedido álbum de mesmo nome. E logo em seguida o videoclipe da música foi disponibilizado nos meios de comunicação, principalmente nas estações de rádio e na então insípida internet daquele tempo.

E ao nos depararmos com esse videoclipe, logo somos hipnotizados pelas movimentações que a câmera faz ao percorrer uma série de ruas e vielas de uma cidade ao amanhecer, não sabemos. O videoclipe nos põem na ação como se carregássemos a câmera dentro de um carro ou sobre uma moto e puséssemos no último volume “Open Your Eyes”, nos movimentássemos continuamente sem respeitarmos as regras de trânsito adiante e a frente. Tudo isso para chegar mais perto da amada, da amiga, da mãe que espera do outro lado do percurso.

A fotografia das partes iluminadas da cidade e das ruas, contrastando com as outras partes escuras feitas pelas sombras dos prédios e das árvores cria um clima sério, porém a meu ver não angustiante, talvez devido a calma da música. Esse videoclipe é justamente um pedaço apropriado de um curta-metragem de 1976, com cerca de 8 minutos, dirigido por Claude Lelouch, chamado C’était Un Rendez-vous, onde diferente do videoclipe que foi retirado todo e qualquer som da locomoção do diretor de carro por Paris, sem obedecer as paradas, e que lá na visão do Snow Patrol, se mostra essa movimentação de forma suave, objetiva e decisiva, aqui, no de Lelouch, você se embrenha no percurso de ter um encontro com uma pessoa, pelo som das inúmeras acelerações que o carro faz.

Elenquei este videoclipe por ter sido feito em plano-sequência, sem cortes, por me apresentar em um videoclipe, um tema não usual para a época, que neste caso, uma locomoção por uma cidade, pela imersão que ele nos proporciona, pelo desencadeamento dos lugares pelos quais a câmera passa.

2 – Gwen Stefani – Used To Love Her

Após 10 anos de lançamento de seu álbum solo debute LOVE.ANGEL.MUSIC.BABY de 2005 que trouxe ao mundo sucessos como “Hollaback Girl”, “Cool”, “Rich Girl” com a participação da cantora Eve, depois seguir carreira com a banda No Doubt e tentar emplacar sem sucesso nas paradas “Baby Don’t Lie” e “Spark The Fire”, Gwen Stefani retorna para promover seu novo álbum “This Is What The Truth Feels Like”, lançando como single a balada no gênero sythpop “Used To Love You”.

Diferentemente dos dois últimos videoclipes carregados de informação, efeitos visuais, saturações e chroma-key, Gwen apresenta um videoclipe em plano-sequência, simples e econômico, dirigido por Sophie Muller (“Stay” da Rihanna, “Use Somebody” da banda Kings Of Leon).

De frente para a câmera e através do desenvolver da música, Gwen Stefani diz tudo através da letra da música sem precisar dizer nada. Só lhe resta usar a música como pensamento de tudo o que pensava sobre algo, neste caso, o divórcio com o ex-marido. Em alguns momentos, ela atua com feições de dor, tristeza e irritação de acordo com a música que discorre. A câmera fixa, mostrando uma Gwen de top, com maquiagem simples, que lembra o clipe da Sia, “Big Girls Cry”, esconde o local das gravações: segundo ela, esse vídeo, gravado dentro de seu provador, era para suas apresentações em Nova York e não tinha intenção de ver ao mundo. “Used To Love You” de forma minimalista e direta mescla som e imagem de uma forma que se encaixa bem no contexto que a letra da música e a nova fase conceitual de Gwen propõe.

3 – Kiesza – What Is Love

A música “What Is Love” é uma versão calma do cantor Haddaway, lançada em 1993 e pertencente ao álbum de estreia de Kiesza, Sound Of A Woman de 2014, lançada após o megassucesso “Hideaway”. 

O videoclipe para “What Is Love” segue a mesma linha de pensamento formal do de “Hideaway”, seu primeiro single: ambos usam o plano-sequência como técnica principal. Porém, diferentemente de “Hideaway” que mostra em uma tomada só Kiesza dançando coreografias de street-dance em um quarteirão no Brooklyn em Nova York, aqui temos uma Kiesza emotiva e vulnerável, cantando sobre onde estaria o amor.

E para isso, iniciando com um fundo vermelho, que logo se revela em um close, sua boca, a sequência da câmera fixa faz caminhar através das configurações das lentes, de movimentações de dentro, onde mostra Kiesza sem roupa, por hora sozinha, para fora, mostrando que ela não está sozinha, mas que outros personagens estão na mesma posição que ela: todos nus, parados em pé, só que apenas de costas para a câmera. A sutileza e delicadeza da criação de imagens para What Is Love que é pensativa e reflexiva, foi pensada e dirigida pela própria Kiesza juntamente com seu irmão Blayre Ellestad e Rami Samir Afuni, produtor executivo do álbum que contém essa música.

Não há informações além dos corpos perante a câmera, no seu fim, ela retorna a posição que os outros personagens estão, dando a entender que com ela, as mazelas do amor também acontecem e que são inevitáveis.

4 – Tiago Iorc – Amei Te Ver

Tiago Iorc desde que despontou no mundo da música em 2008 com Nothing But A Song, sempre cuidou de trazer ao mundo videoclipes bem pensados. Seu sucesso foi só crescendo, de início com músicas apenas em inglês, passando pelo lançamento de um videoclipe apenas com imagens afetivas de sua infância até chegar em 2015 com um álbum majoritariamente em português chamado Troco Likes e criticar a contemporaneidade das relações interpessoais na era da internet.

Pensando nesta época digital, percebemos que excessos rondam não só o âmbito da internet mas também da vida dita real e como um bálsamo para essa vida dita real, saturada de imagens, de informação e comunicação, “Amei Te Ver” chega em boa hora.

Todo o videoclipe possui uma organicidade, mesmo num contexto de controle de criação visual-imagética, que enche os olhos. Ao menos o meu. “Amei Te Ver” nos puxa para o lado, nos faz sentar, nos pede um tempo diferente dos outros: ele quer sua atenção para poder navegar pela pele do cantor e da atriz convidada Bruna Marquezine (protagonista de I Love Paraisópolis). São peles, poros, pelos. São olhares, são abraços que navegam pela câmera em slow motion do diretor Rafael Kent (dirigiu o clipe “Hoje” da Ludmilla (2014), da banda Cine – “Se Eu Pudesse” (2014).

Pelas dificuldades nas agendas de Iorc e Marquezine, o casal conseguiu gravar em uma manhã de domingo e é justamente esse dado do improviso, do simples que se vê em todo o andamento do clipe: junta-se duas pessoas em uma espécie de depósito ou quarto com quinquilharias e grava em uma toma só um videoclipe. O casal à distância é retratado em uma espécie de singela penumbra azulada, mas que ao se aproximar do corpo e da pele, a imagem adquire uma claridade que como um helicóptero que sobrevoa um lugar, a câmera sobrevoa esses corpos. O orgânico paira nesse videoclipe: são as personagens em poucas roupas, é o abraço infinito que transforma dois em um 1 amorfo, são os pedidos subentendidos para que as pessoas prestem atenção às relações pele à pele, da sensação de sentar no chão para não esquecer que ele existe, para sentir a vida. E eu acho que é isso que Tiago Iorc quer em “Amei Te Ver” e em todo o seu álbum, que as pessoas não se esqueçam que também existe o mundo dito real que realmente é real e também precisa ser ocupado, vivido, contatado, sentido e experimentado.

5 – Enrique Iglesias – Ayer

Ao se pensar em Enrique Iglesias sempre o lembramos como o cantor latino que canta em inglês e espanhol sobre festas, diversão e mulheres. Seus videoclipes nesta ótica da música pop no seu grau mais popular e seguramente hits de tempos e tempos trazem como contribuição à expressão videoclíptica narrativas clichês, cortes esperados e temáticas requentadas.

Mas eis que em 29 de julho de 2011, Enrique Iglesias lança um videoclipe para a música “Ayer”, do álbum Euphoria que nos faz, nas palavras de Meena Rupani do Desihits nos apaixonarmos por Enrique antes de mais nada. E é justamente isso. Em “Ayer”, Enrique está tristonho sentado em um quarto e canta sobre o amor que ficou no passado. Desta vez, não é inglês em que ele solta a voz. Seu espanhol europeu soa perfeitamente açucarado e amoroso.

Com um ruído surdo o videoclipe se inicia no escuro e é quando a balada latina em estilo R&B se impõe mostrando de início o cabelo de Enrique, sua posição de sentado no espaço e velas ao chão. Num momento crucial da música, quando esta se rearranja para o coro final, fumaças são lançadas cobrindo Enrique e iniciando um foco de incêndio.

O recurso do uso do slow-motion e do plano-sequência potencializa todo a crueza e clima da música. Dirigido por novato em videoclipes, Evan Winter, Ayer é a ode ao irreparável e a prova de que o menos é mais quando se fala de coisas que não dão para voltar atrás.

Fercho Marquez