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Fantástico: As primeiras experiências videoclípticas no Brasil

Arquivo | 09 set 16 - por Fercho Marquez
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Nos primeiros anos, o Fantástico pertencia à área de shows e, desde a estreia, reservava um espaço privilegiado para números musicais, funcionando como um laboratório de inovações cênicas, cenográficas e coreográficas. Cerca de duzentas pessoas – entre músicos, cantores, bailarinos e produtores – trabalhavam nesse setor. Em 1974, um dos primeiros musicais apresentados no programa foi com a banda Secos e Molhados. O Fantástico exibiu imagens em preto e branco dos bastidores e do show no Maracanãzinho. O cantor Ney Matogrosso interpretou hits como “O Vira” e “Rosa de Hiroshima”.

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Ainda no ano de 1964, em que The Beatles lançava “A Hard Day’s Night”, no Brasil, Humberto Mauro produzia um curta-metragem que ilustrava a música popular “A Velha A Fiar” com trilha sonora do Trio Irakitan. O curta fez muito sucesso e se tornou referência e ainda é considerado por muitos críticos como um dos primeiros videoclipes do mundo.

Em 28 de abril de 1974, o Fantástico exibia pela primeira vez o videoclipe colorido de “Bom Tempo” da cantora de samba Sonia Santos. No mesmo ano, seria exibido “Gita” de Raul Seixas, um dos primeiros videoclipes à cores exibido no Fantástico, e sem dúvida, o mais importante para o cenário audiovisual no Brasil daquela época.

Com a novidade das cores, começou o uso de efeitos visuais como o chromakey, até então usado quase que exclusivamente nos telejornais da emissora. O diretor de arte Ciro Del Nero lançou mão do recurso para injetar criatividade nos números de dança ou nas performances musicais do Fantástico. Desde o início, o diretor da área de shows Nilton Travesso utilizou todos os meios técnicos disponíveis para a montagem e produção de números estrelados por cantores e bandas. Travesso também revolucionou tecnicamente os musicais, com gravações externas, produção e edição caprichadas, proposta bem inovadora para o trabalho em televisão na época.

De acordo com Guilherme Bryan em seu artigo Os Videoclipes do Fantástico, O diretor Nilton Travesso, que trabalhara nos Festivais de MPB, da TV Record, garante que o primeiro videoclipe foi “América do Sul”, estrelado por Ney Matogrosso e realizado em 1975. A justificativa é que ele fora realizado em ambiente externo, escapando do modelo dos números de palco, gravados em estúdio. Também trazia efeitos especiais, como mudanças de cores; e possuía sincronismo labial, além de maior cuidado com edição.

O Fantástico também já exibia números musicais produzidos em outros países, e os correspondentes internacionais nos Estados Unidos ou em Londres, sempre que possível, produziam entrevistas e destacavam as últimas novidades na parada internacional, além da influência de ritmos e cantores brasileiros no exterior.

Aloysio Legey, que assumiria a direção da linha de shows do Fantástico em 1977, aperfeiçoou tecnicamente os musicais em termos de filmagem, iluminação e cenário. Um trabalho que teria continuidade ao longo dos anos graças a diretores como Paulo Netto, Eid Walesko, Gilberto Mota, José Mário, Miéle, Fabio Sabag, Roberto Talma, Herbert Jr., Ricardo Nauenberg, Jorge Monclair, Paulo Trevisan, Ignácio Coqueiro e muitos outros.

“Na maioria das vezes, esses videoclipes trabalhavam com as canções-tema das telenovelas exibidas pela TV Globo, muitas vezes com cenas das próprias produções ou estrelados por atrizes e/ou atores do elenco da emissora.”, afirma Guilherme Bryan no artigo Os videoclipes do Fantástico. “A razão é que, desse modo, divulgava-se não apenas as próprias telenovelas, mas também os fonogramas reunidos em discos comercializados pela gravadora Som Livre. Um dos videoclipes mais interessantes nessa inter-relação é “Mistérios da Meia-Noite”, dirigido por Paulo Trevisan para Zé Ramalho, em 1985.”

 

No livro Made In Brasil: Três décadas do vídeo brasileiro (MACHADO, Arlindo (org) – São Paulo, SP. Iluminuras. 2007, p. 18.) é dito que “No começo dos anos 1980, uma nova vaga de realizadores reorientaram a trajetória do vídeo brasileiro. Trata-se da geração do vídeo independente, constituída em geral de jovens recém-saídos das universidades, que buscavam explorar as possibilidades da televisão como um sistema expressivo, e transformar a imagem eletrônica num fato da cultura de nosso tempo. O horizonte dessa geração é agora a televisão e não mais o circuito sofisticado dos museus e galerias de arte. Muito sintomaticamente, essa outra vaga se opõe à videoarte dos pioneiros pela tendência ao documentário e à temática social. Com sua entrada barulhenta em cena, o vídeo começa a sair do gueto especializado e conquista seu primeiro público.” 

Dessa safra podemos listar abaixo clipes de diversas bandas e artistas nacionais que ganharam projeção nacional através  do “selo de qualidade” da Globo. 

 

Fercho Marquez