Vamos ser sinceros, “Maracatu Atômico” está mais para o “Mas que Nada”, como referência mundial para a música brasileira do que como referência regional da música popular nordestina, como assim ficou conhecido brasil afora com a versão poderosa do lendário Chico Science & Nação Zumbi.
Nação Zumbi (antes conhecida como Chico Science & Nação Zumbi) é uma banda brasileira, nascida no início da década de 1990, em Recife, capital do estado de Pernambuco, a partir da união do Loustal, banda de rock pós-punk, com o bloco de samba-reggae Lamento Negro, e originalmente chamava-se “Chico Science & Nação Zumbi”. O líder e vocalista da banda, o cantor e compositor Chico Science, fundou, junto com a banda Mundo Livre S/A, o movimento Manguebeat (Mangue = ecossistema rico ediversificado, alusão aos manguezais existentes em boa parte do território de Recife; + Beat que é batida em inglês) e ao lado de bandas como Raimundos e Planet Hemp, foi responsável pela “abertura de portas” para o rock brasileiro dos anos 90, sendo uma das mais influentes bandas brasileiras de todos os tempos.
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Em 1997, um acidente fatal deixou o Brasil orfão do gênio Chico Science, mas antes de sua morte, ele deixou um legado invejável para a nossa cultura popular. Influenciou artistas variados assumidamente como por exemplo Planet Hemp, O Rappa, Charlie Brown Jr, Cordel do Fogo Encantado, Os Paralamas do Sucesso, Mombojó, Otto e Sepultura (mais especificamente o álbum Roots).
O primeiro álbum Da Lama Ao Caos, saiu em 1994 e já demostrava todo o talento dos músicos, porem foi em 1996 que a fama abraçou de vez os rapazes com o disco Afrociberdelia. É neste CD que se encotram os dois maiores sucessos do Nação Zumbi. “Manguetown” e “Maracatu Atômico”, uma releitura totalmente reformulada da original, composta por Nelson Jacobina e Jorge Mautner e lançada em 1974 por Jorge no álbum homônimo Jorge Mautner. No mesmo ano, Gilberto Gil regravou para o álbum Cidade do Salvador . Mas é esta versão neo-antropofágica, que definiu a imortalidade desta canção.
A década de 90 tinha na MTV Brasil o maior expoente de videoclipes no país. Praticamente todos os lançamentos do rock-pop brasileiro passavam pela emissora e isso influenciou as produções audiovisuais como nunca visto antes. com o Nação Zumbi, não foi diferente. O videoclipe de “Maracatu Atômico” dirigido por Raul Machado, repercussionou no Brasil através da emissora como uma obra-prima de caráter híbrido e ao mesmo tempo regional.
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A versão groove, meio hip-hop, e batidas alucinantes foi bem representada por um videoclipe cheio de traços regionais. A começar pelo figurino extravagante e pscodélico misturados com os membros do grupo cobertos de lama (uma referência ao titulo do álbum anterior) que lembram criaturas demoniacas. Na maioria das cenas, o enfoque da câmera é a partir do chão.
A escolha dos elementos presentes aqui se basearam na criatividade da cultura popular de rua da região e celebra a faceta multicultural, urbana, confiante e futurista do som que saia da caixola de Chico Science. O clipe conseguiu este feito sem apelar para o regionalismo excessivo, tornando suas características suavizadas em prol do “digerismo fácil”, o que o tornou acessível para o grande público.
E mesmo depois da morte do fundador e cabeça do movimento, “Maracatu Atômico” nunca foi esquecido e continua a ser festejado como uma grande celebração da música popular brasileira. A prova disso está na maravilhosa apresentação de B.Negão no cerimonia de encerramento das olimpíadas de Londres. Alguém conseguiu associar a canção aos compositores originais?