A geração anos 80 lembra com espanto o clipe de três garotos brancos do Broklin de Nova Iorque cantando um rap de negro alucinante em “Fight For Your Right”.
Os Beastie boys (Michael Diamond (Mike D), Adam Yauch (MCA) e Adam Horovitz (Ad-rock)) foram a melhor surpresa daquela década desde o surgimento do imaculado The Smiths. E Licence To Ill (1986) seu debut, causou um impacto global como poucos discos e rapidamente alcançou o topo das paradas norte americanas, ao vender 750 mil copias só nas 6 primeiras semanas do lançamento. Fato que marcou a história do hip-hop, sendo o primeiro disco do gênero a alcançar tal proeza. Talvez a melhor estreia de um artista de todos os tempos.
Entre os grandes hits que estouraram, “Fight…” se tornou um hino das festas e a MTV – que havia sido acusada de racismo por não tocar música negra em sua programação, principalmente o hip-hop nova-iorquino (artistas como Rick James, Kool Moe Dee ou Roxanne Shante eram ignorados e os únicos artistas negros que realmente tinham algum espaço eram Michael Jackson e Lionel Ritchie, artistas cujas músicas eram muito pop de branco!) – decidiu executá-la em sua programação, mas pediu ao grupo um videoclipe em duas semanas, ou então, a canção seria esquecida de sua programação. Então Ric Rubin, produtor do trio, chamou o amigo e diretor de vídeos Ric Menello (que também era amigo de longa data do trio) para dirigir o trabalho e o mesmo convidaria Adam Dubin para co-dirigir (se algo desse errado, Monello poderia culpa-lo, revelou o mesmo em um livro). Realizaram a proeza em duas semanas.
Dubin conta no ótimo livro I Want My MTV – The Uncensored story of the music vídeo revolution, de Craigs Marks e Rob Tannenbaum que a ideia para o vídeo surgiu em uma conversa quando Monello queria algo parecido com a cena de uma festa no clássico filme Bonequinha de Luxo (1961), de Black Edwards e estrelado pela atriz Audrey Hepburn, onde os convidados aprontavam todas em um momento de total descontração (click aqui para comparar as cenas).
No clipe os rebeldes destroem a casa (gentilmente cedida pelos pais do hospedeiro) jogam tortas na cara dos outros, chutam a porta do banheiro, entre outras travessuras – uma verdadeira rebelião infantil. Algumas ideias realmente foram roubadas do filme, como, por exemplo, um rapaz com um tapa-olho. Os diretores conheciam os Beastie Boys havia anos e sabiam o quão idiota eles eram, adoravam encher a cara nas festas, bolinar as garotas e quebrar tudo e depois saíam como se nada tivesse acontecido. A imagem ideal da banda havia sido criada e o conceito do vídeo se encaixou perfeitamente nela.
Muitos elementos do clipe também pareceram ter sido influenciadas pelo clássico filme de terror O Despertar Dos Mortos (1978), de George A. Romero. Na fita, um motociclista de gangues se infiltra em um shopping center e ataca os zumbis com (entre outras coisas) tortas na cara! O mesmo também esmaga um aparelho de televisão com um martelo, assim como MCA faz neste vídeo. Existem também inúmeras participações especiais, incluindo uma futura jornalista e fotografa da MTV norte-americana – e desconhecida na época – Tabitha Soren (ela revelou que o chantili usado nas tortas foi retirado do lixo de um supermercado e o cheiro era insuportável, por isso, todos queriam se livrar dele jogando na cara dos outros), LL Cool J, os membros de uma banda punk Murphy’s Law, assim como o produtor dos Beastie Boys, Rick Rubin, que aparece usando uma camiseta do AC/DC e do Slayer.
Monello confessou que havia sido entrevistado pela MTV na época, a respeito do videoclipe e ele contou mentiras absurdas, como por exemplo que o vídeo havia sido gravado na Franca! Um verdadeiro Enfant terrible!
Monello faleceu de ataque cardíaco aos 60 anos em 1 de marco de 2013 e embora ele não fosse um nome familiar, o diretor/roteirista foi um dos visionários mais influentes por trás do surgimento do hip-hop nos anos 1980 e contribui bastante para o sucesso do Beastie Boys com este videoclipe clássico.
Direção: Ric Menello & Adam Dubin | Ano: 1986